06 abril 2007

BOLA BRANCA 08 04 2007

Obrigado Esporte Clube Pelotas! Esta é a frase que todo torcedor Xavante deveria estar pronunciando neste momento. É a expressão que mereceria habitar a consciência de todos os Rubro-Negros nestes tempos revigorantes. Uma espécie de grito uníssono de agradecimento ao arqui-rival bradado por todos os que torcem pelo Brasil de Pelotas: Obrigado Esporte Clube Pelotas!


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O Pelotas entregou de bandeja ao Grêmio Esportivo Brasil aquele que se transformou no seu maior ídolo da era moderna. “Armou o inimigo” como diriam as velhas raposas do nosso futebol, graças à inobservância de preceitos clássicos das nossas rivalidades futebolísticas. O relato feito aqui é verdadeiro. Fui testemunha deste equívoco Áureo Cerúleo imperdoável!


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Certo dia, início de temporada, entrei na Boca do Lobo e vi Cláudio Millar sentado num banco à porta do vestiário profissional. O treino acontecia no gramado do estádio e era preparatório para um amistoso que o Pelotas iria disputar contra o São Paulo de Rio Grande naquela semana. Millar já não calçava as chuteiras, elas estavam ao seu lado e ele tomava, resignado, um mate bem ao seu estilo uruguaio. Aproximei-me dele e perguntei ao “castelhano”: – O que houve, porque não estás treinando? Ao que respondeu com tranqüilidade: – Cheguei cerca de dois ou três minutos atrasado e o Eduardo (Pereira) não me deixou treinar!


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Na verdade Cláudio Millar nunca teve uma chance efetiva no time do Pelotas. Sempre foi preterido em detrimento de escalações questionáveis que atendiam interesses. Nunca pôde demonstrar sua regularidade. Aquela resposta era quase um sinalizador de rompimento, pois ao relatar ao técnico, após o treinamento, de que gostaria de estar no time contra o São Paulo, recebeu a resposta de que quem não treinara não estaria relacionado para o jogo. Aquele era um simples amistoso de início de temporada e para bom entendedor meia palavra bastara. Millar sentira, naquele momento, que estava fora dos planos!


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Começava ali a “gestação” da, talvez, maior “entregada” entre rivais da história do futebol pelotense. Eduardo Pereira e os dirigentes da época não conseguiram dimensionar o poder diferenciado daquele gringo. Montados na soberba, na auto-suficiência e no alto da prepotência digna dos grandes cartolas disseram ao jogador que: –Ele era apenas mais um no elenco. Errariam feio! E pagariam caro pelo erro!


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Millar tinha vindo de mudança e tudo para Pelotas. Desejava morar aqui na cidade e não escondia essa sua determinação de ninguém. Era fato que aqui ficaria radicado e todos que viviam o futebol sabiam. Era mais do que previsível: Se não ficasse no Pelotas iria cair nas graças do Brasil. Era só uma questão de acerto, o que não tardou a acontecer. Diante da soberba Áureo–Cerúlea, Cláudio Millar despediu–se de alguns amigos que deixara na Boca do Lobo, confessou a outros que gostava do clube e se bandeou para o outro lado da cidade para mudar o panorama futebolístico local. Meu amigo Bruno Rosseli, homem de visão rara sobre os bastidores do futebol prenunciou: Vai se tornar o ídolo do Brasil! Estamos armando o adversário, profeciou. O mesmo teria sido dito ao vice-presidente de futebol do Pelotas da época, Bonifácio Poestch, que não teria dado ouvidos ao sábio Bruno!


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O que se seguiu todo mundo sabe. Cláudio Millar foi para o Brasil, venceu com tenacidade inigualável o Torneio de Verão 2004, tornou se o maior artilheiro da Segunda Divisão jogando pelo rubro-negro, foi campeão da Segundona daquele ano com o seu novo time e consagrou–se com a fanática torcida. Mais recentemente uma nova injeção de ânimo foi dada pelo rival que insiste em não medir as conseqüências dos seus atos. Millar incrédulo diante das notícias, buscou forças para renascer com legítimo vigor. Com ele renasceu também o agora “seu” Grêmio Esportivo Brasil. Disse que mais do que tudo está revigorado após ajudar a tirar o time do calabouço da Segunda Divisão. Vai para outras missões e voltará.


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E os dirigentes sem faro? Bem, eles, ao contrário, colocaram sim o seu time no calabouço da Segunda Divisão, talvez continuem a não acreditar no potencial do craque e assistem de camarote o castelhano se transformar no maior jogador do futebol pelotense da era moderna, graças a eles, um presente deles ao rival. Ao que exaltam os Xavantes: Muito Obrigado Esporte Clube Pelotas, ahhh e Feliz Páscoa na Segundona!


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Até a próxima!