22 dezembro 2006

BOLA BRANCA 24.12.2006

Último minuto: O Trianon – time organizado pelo cabeleireiro Nei Oliveira – e que se reúne nos finais de cada ano com jogadores brasileiros oriundos de vários clubes do nosso país e do futebol internacional , venceu a Seleção da Costa Doce, treinada pelo ex-goleiro Mazzaropi, na tarde deste sábado em São Lourenço do Sul por 3 a 0. O evento contou com a presença do técnico da Seleção Brasileira Dunga que falou com exclusividade a este blog e com a Rádio da Universidade Católica de Pelotas que transmitiu o jogo. Dunga perguntado sobre os pelotenses na Seleção respondeu: - Eles já tiveram as suas oportunidades, foram bem, fazem parte da seleção e podem ser chamados a qualquer momento. Os gols do Trianon foram marcados por Alexandre Chuva, Bruno Coutinho e Daniel Carvalho cobrando pênalti. O jogo sempre é realizado em caráter beneficente. Este ano o Trianon contou com: Marcelo Boeck; Michel, Caçapa (Grêmio), Vinícius (Atlético-MG) e Chiquinho (Inter); Clayton (Flamengo), Paulo Baier (Palmeiras), Daniel Carvalho (CSKA-Rúsia) e Bruno Coutinho (América-RN); Diego (Figueirense) e Alexandre Chuva. O juíz do jogo foi Carlos Eugênio Simon.


GHIGGIA CHEGOU!

E os uruguaios não estão por aqui? “Suerte...!”
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Na noite de 30 de março de 2005 o Estádio Centenário de Montevidéu já estava cheio, repleto quase, para mais aquele Uruguai X Brasil, desta vez pela Fase de Eliminatórias à Copa da Alemanha 2006 e um homem “roubaria” o espaço de Ronaldo, seria mais cotejado do que Kaká e mais aplaudido do que Ronaldinho Gaúcho.
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Gravei uma rápida entrevista com o conterrâneo Emerson entre o ônibus da Seleção Brasileira e a porta do vestiário e corri para o meu posto para “passar” a entrevista para Pelotas através da R.U. Emerson inclusive viria a marcar o gol de empate naquele jogo histórico como são todos envolvendo esses dois países que terminaria em 1 a 1.
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No trajeto entre a ante-sala do vestiário destinado ao Brasil e as cabines de imprensa existe um grande vão cheio de painéis e placas em bronze que relembram “passos” históricos do futebol uruguaio. Este “hall” estava cheio de jornalistas, radialistas e o burburinho era grande. De repente um silêncio absoluto toma conta daquele espaço destinado à imprensa de todo o mundo que se fazia presente: Estava chegando o magistral, o herói, a lenda viva, o maravilhoso e endeusado Alcides Edgardo Ghiggia, “El verdugo do Maracanã”.
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Os torcedores uruguaios lhe rendem então uma espécie de reverência durante o trajeto entre a porta principal destinada a entrada da imprensa e a tribuna perpétua que leva o seu nome no estádio. Ghiggia não apresenta credenciais nem tem sequer um ingresso na mão! Ninguém ousa pedir-lhe identificação! Quando chega ao balcão, de onde se visualiza o gramado, Ghiggia contempla a multidão e acena para o público que o aplaude de pé num sinal de absoluto respeito. Uma bandeira enorme é desfraldada nas tribunas – como chamam os uruguaios a nossa arquibancada - do lado oposto com um dizer emblemático: Gracias por 1950. Eles chamam aquele “golpe” de “Maracanazo”! Os uruguaios nunca esquecerão 1950. São devotos daquele momento e deste “santo” do futebol que está personificado em Ghiggia. O futebol do Uruguai vive e sobrevive do Maracanã, parece que compreende bem este fato, convive e faz questão da eterna presença dele.
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Quando Gigghia passou a poucos metros de onde eu estava, não sabia se estendia o gravador para “pegar” um suspiro daquele símbolo histórico do futebol mundial ou se apenas assistia aquela cena comovente. Gravei, como tantos a minha volta, sem nada perguntar. Ele dedicou um respeito superior, para com todos que se envolvem com o futebol, ao Brasil, mas sobretudo agradeceu ao seu povo pelo carinho e pelo eterno e imorredouro reconhecimento. Fez referência, claro, as dificuldades daquele jogo, comentou sobre uma possível ida do Uruguai à Alemanha e óbvio, falou do momento mágico que provoca um sorriso de satisfação em cada repórter uruguaio: O momento do seu gol no Maracanã.
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Estava eu ali e ao meu lado o “carrasco” do Maracanã de 50, o homem que calou uma nação, o jogador que fez chorar o maior estádio do mundo com duzentas mil pessoas. E eu estava ali, frente a frente, tocando-o, “mirando-o” e absolutamente não nutria nenhum sentimento que não fosse também o de admiração e respeito. Apenas fiquei observando-o. Logo ele se foi e segui atrás, ao lado dos inúmeros repórteres que o cotejavam compartilhando da mesma aura do “mito”.
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Quem vive o futebol percebe logo que aquele era um momento raro que só quem o vive é quem vai a estádios muitas e muitas vezes, quem abandona o conforto da poltrona, quem passa horas dentro de um ônibus ou amarga eternas esperas em aeroportos. Quem vive futebol percebe que aquele era um momento para se aproveitar ao máximo. Ali estava um ícone do meu esporte preferido. Um divisor de uma época, um marco humano na história da bola. Fiquei observando os gestos e Gigghia. Foi, entre tantas, uma noite memorável de futebol. Gigghia, quando chegou, percebi, o Centenário lotou!
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Na última quarta-feira Ghiggia foi homenageado pelas autoridades do futebol uruguaio mais uma vez. Havia no Centenário mais um Brasil e Uruguai desta vez sub-20 entre a Seleção Uruguaia e a Seleção Gaúcha para comemorar os oitenta anos de Ghiggia.
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Feliz Natal a todos!