A Boca do Lobo enfeitou-se. As suas arquibancadas sabiam que o dia era de festa. Apesar de o céu ser azul e o sol amarelo veio um dia cinzento que teve que ser colorido aqui em baixo pela nossa gente.
Avisou-se que ninguém poderia ficar de fora. Seria o dia mais especial. Talvez merecesse um terno ou uma roupa nova. Dos quase 101 anos, este seria um dia para entrar nos momentos de louvação. Um daqueles para ficar imortalizado. E assim foi! Surgiram instantes de emoções, lembranças e nostalgias, balanços, mas sobretudo tudo serviu para delinear um novo tempo.
Não existe torcedor do Pelotas que, com a oportunidade de escolher uma sucessão de acontecimentos, que optasse por algo diferente do que os daquela tarde. Mas tinha mais: um personagem com alma e devoção estava escolhido para receber a unanimidade dos pensamentos e selar uma união indevassável. Tinha que haver, naquele dia especial, um símbolo da unificação. Havia a necessidade de materializar-se os acontecimentos num único herói.
Estou desde quarta-feira vendo e revendo, no teipe, aquele instante mágico de um corpo em harmonioso movimento com o tempo e com o espaço disparando um petardo empurrado por mais de dez mil pensamentos conjuntos. E a bola, com a velocidade de um cometa, espantando a todos, tocando a rede com a fúria sadia envolta da energia dourada dos cabelos daquele "carrasco" das defesas. O sol surgiu por um instante só para quem estava lá. Ouviu-se então uma explosão imensurável e indescritível. Descortinava-se a luz.

Fica leve, segue teu caminho encantando a todos com as tuas jogadas inesquecíveis fazendo dos sonhos a nossa realidade. Estás imortalizado na nossa alma como tantos outros. A forma dos teus pés deveriam ficar sedimentados num espaço daquele nosso chão e teu nome afixado no bronze, numa parede da “tua casa” - a Boca do Lobo - de onde nunca mais sairás. Estarás assim cumprindo o teu papel para as gerações que nos sucederão. Obrigado Sandro Carlos Sotilli